sábado, 28 de fevereiro de 2009

MERCADO DE AFETOS



Hoje eu quero lábios
Lábios para beijar até dizer chega
Até perder seu sabor de novidade

Vejo os lábios em lindos rostos emoldurados
Não quero saber deles
Outros dias, talvez
Para estampar como gloriosas conquistas
Aos meus amigos que desejo impressionar
E me sentir bem como grande caçador

Esta noite quero somente
Perder-me em um beijo
Sem minúcias
Ser todo ele fome insaciável
Sem sutilezas

Não quero o que está por trás do olhar
Daquela menina
E ouvir a sua voz

Pode conter tolices
E não tolero tolices
Embora o tempo inteiro eu arme as
Minhas tramas e investidas
Com idiotices e futilidades

Pode contar verdades
E não agüento verdades
Elas podem me cortar
Me desnudar, me revelar
E não quero correr riscos

Não quero a inteligência por trás
De seu olhar
Nem que ele me devasse

Nem a alma que reside
Atrás daquela inteligência
Não desejo saber que sou cruel

Em troca
Num acordo cúmplice
Não faço o mesmo
E permanecerei de olhos fechados

Outro dia, quem sabe
Vou desejar pernas, ou seios
Num momento raro, pescoços
E quando me perder de mim
Encontrar-me dentro de outra pessoa

Estou em busca de algum afeto
Oferecido por alguém desconhecido
E ofereço a mim mesmo em troca
Dentro dos mesmos termos

Quero a carícia sem o afeto
Porque o afeto verdadeiro
Traz compromissos

Quero o carinho
De alguém que não me ame nem me odeie
E me afague mecanicamente os cabelos
Prometo fazer o mesmo
Sem risco de me apaixonar

Sem dúvida
Neste salão
Onde se mercadejam carinho e atenção
Haverá uma outra pessoa
Que queira também somente lábios

Há muitos rostos
Vejo muitos lábios
Frescos e maduros, tenros em flor

Vamos negociar
Vou regatear e pechinchar
O alheio
E valorizar o meu

Estou à venda
Quem quer comprar?







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