segunda-feira, 2 de março de 2009

sábado, 28 de fevereiro de 2009

...a cidade e os prazeres...

Engana-se quem realmente acredita que conheça a cidade sobre a qual vou relatar agora. Três já foi conhecida pela grandiosidade de sua religião e pela religiosidade de sua grandeza. Já teve influentes e doutores passeando por seus irregulares paralelepípedos, já teve lavadeiras e heróis populares, já teve mestres de ofícios, construtores, dramaturgos e poetas. Na verdade já teve tudo que uma cidade um dia quis ter. Porém tudo isso vive no passado. Nas lembranças incrustadas nos entalhes da madeira, nas gárgulas de latão e nas tramas do pau-a-pique.
Hoje ela é outra cidade. Feito uma ópera, vive das cenas que consegue forjar de si mesma. É um cenário! A estação ferroviária guarda inoperante seu último vagão, a casa da moeda não tem cédulas deste século, a casa de câmara e cadeia virou museu de uma história que muitos gostariam de esquecer. E é esta cidade, fruto dela mesmo, que convida viajantes dos mais diversos e longínquos lugares a ser, por algum tempo, seus próprios habitantes. Ser uma cidade que reside em recordações é o seu destino, a sua pena por pecados de outrora. E assim ela vive, carregando consigo todos que nela habitam.
Porém os habitantes desta cidade dos encontros até tentam, mas não conseguem esconder a verdadeira Três, a cidade da luxúria e dos prazeres.
Logo que o sol se põe, por detrás das montanhas que emolduram seu horizonte, as almas das mais festivas criaturas que ali já viveram sobem das profundezas, e transformam seus atuais e ingênuos habitantes nos seguidores da volúpia e da libertinagem. E eles o fazem maravilhosamente bem. Distribuídos pelas milhares de habitações, das centenas de vielas da cidade, cada pessoa interpreta seu próprio personagem. Em um desfile de pierrôs, faustos, medusas e odaliscas; a bebedeira, a esbórnia e a libidinagem revelam a cidade das aparências. Enquanto a escuridão reina na cidade, os vícios e as orgias comandam os porquês de sua existência.
Todos se perdem e tudo se permite até o início de um novo dia, quando, aparentemente, as coisas voltam às sua engrenagem inicial.
Entretanto, no limiar do primeiro raio de sol se ouve um sussurro. Para uns é o primeiro sopro de brisa do dia que vem surgindo. Para outros, o último gozo da mulher amada.





MAPA DOS PRAZERES

MERCADO DE AFETOS



Hoje eu quero lábios
Lábios para beijar até dizer chega
Até perder seu sabor de novidade

Vejo os lábios em lindos rostos emoldurados
Não quero saber deles
Outros dias, talvez
Para estampar como gloriosas conquistas
Aos meus amigos que desejo impressionar
E me sentir bem como grande caçador

Esta noite quero somente
Perder-me em um beijo
Sem minúcias
Ser todo ele fome insaciável
Sem sutilezas

Não quero o que está por trás do olhar
Daquela menina
E ouvir a sua voz

Pode conter tolices
E não tolero tolices
Embora o tempo inteiro eu arme as
Minhas tramas e investidas
Com idiotices e futilidades

Pode contar verdades
E não agüento verdades
Elas podem me cortar
Me desnudar, me revelar
E não quero correr riscos

Não quero a inteligência por trás
De seu olhar
Nem que ele me devasse

Nem a alma que reside
Atrás daquela inteligência
Não desejo saber que sou cruel

Em troca
Num acordo cúmplice
Não faço o mesmo
E permanecerei de olhos fechados

Outro dia, quem sabe
Vou desejar pernas, ou seios
Num momento raro, pescoços
E quando me perder de mim
Encontrar-me dentro de outra pessoa

Estou em busca de algum afeto
Oferecido por alguém desconhecido
E ofereço a mim mesmo em troca
Dentro dos mesmos termos

Quero a carícia sem o afeto
Porque o afeto verdadeiro
Traz compromissos

Quero o carinho
De alguém que não me ame nem me odeie
E me afague mecanicamente os cabelos
Prometo fazer o mesmo
Sem risco de me apaixonar

Sem dúvida
Neste salão
Onde se mercadejam carinho e atenção
Haverá uma outra pessoa
Que queira também somente lábios

Há muitos rostos
Vejo muitos lábios
Frescos e maduros, tenros em flor

Vamos negociar
Vou regatear e pechinchar
O alheio
E valorizar o meu

Estou à venda
Quem quer comprar?







ENTREVISTA COM CARLA MENDES
[Carla Mendes Alves Pinto é estudante da Universidade Federal de Alagoas]

ENEA OURO PRETO 2003

O ENEA Ouro Preto foi um encontro diferente, tanto do meu primeiro o EREA Maceió 2003, tanto dos tantos outros que fui depois. Em Ouro Preto só se percebia que havia um encontro pelo aglomerado de gente de crachá em todos os cantos da cidade. O encontro não era em um local fechado e sim por toda a cidade, em cada república, em cada bar, em cada padaria, em cada rua, praça, ladeira etc. Pude curtir uma cidade transformada, uma cidade bela com toda certeza, mas uma cidade que eu sabia que estava diferente, uma cidade que foi ocupada por estudantes. Era perceptível tanto o susto quanto a receptividade dos moradores e em alguns casos até mesmo o repúdio pelos tantos estudantes que ali estavam.

Era uma cidade ENEA que parecia não ter sido preparada para receber os estudantes de Arquitetura e Urbanismo que estavam ali para se encontrar e compartilhar idéias e sonhos, mas sim uma cidade cheia de Arquitetura que recebeu estudantes sem um planejamento. Os estudantes estavam espalhados por ela, em vários pontos diferentes, houve os que nem sequer saíram de repúblicas, houve os que ficaram em casas distantes e os que passaram frio no camping. O diferente para mim foi que naquela cidade não se via as atividades do encontro, não se via as informações sobre as atividades, não participei de quase nada que o encontro ofereceu, pois nem sequer sabia o que estava sendo oferecido. Acabei fazendo meu próprio roteiro e muitas vezes andando só ou em dupla, esperando encontrar pessoas somente nas filas pra entrar no Centro que abrigava algumas atividades (em meio a tudo consegui ir em somente uma palestra do simpósio de patrimônio que me inscrevi), na pra entrar no refeitório e a noite na que levava a tenda azul onde aconteciam as festas. Acabei encontrando e conversando com pessoas em todos os cantos, pessoas que muitas vezes acabei encontrando uma única vez na vida... Vi muita gente disposta a se encontrar, mas também os que não fizeram questão de conhecer ninguém novo e permaneceu em sua delegação.

O ENEA Ouro Preto foi a cidade de Ouro Preto; cidades esta dos encontro inevitáveis; a cidade das festas intermináveis, da culinária maravilhosa, do primeiro frio congelante por qual passei; uma cidade bem grande, sempre cheia de gente; uma cidade em que a arquitetura unia as pessoas; o Encontro mais não-Encontro que eu já tive a oportunidade de participar. Encontro que deixou sua marca e foi inesquecível por suas especificidades.



TRÊS, A CIDADE DOS PRAZERES
O XXVII ENEA aconteceu na cidade de Ouro Preto, no ano de 2003.
Foi o primeiro encontro como delegado (responsável pela delegação de uma escola) e onde a UFSC compareceu com uma das maiores delegações de todos os tempos.
Foi um encontro grande (mais de quatro mil pessoas), em uma cidade razoavelmente pequena (menos de 50 mil habitantes). Com isso o encontro se espalhou pela urbe criando um misto de “cidade ENEA” e “cidade de Ouro Preto”.
Este encontro foi marcado pelas intermináveis festas nas republicas estudantis (alojamento para muitos encontristas) e por um certo abandono das poucas atividades do encontro em busca de um turismo na cidade.